quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

#15 Realidade ou Ficção?


.     A vida de Clarice estava abalada, seu psicológico não colaborava. Exames médicos haviam constatado que a adolescente - ela estava com 15 anos - tinha uma disfunção rara em seu coração e o nome soava meio estranho: Pericardicite aguda; uma rara condição em que a membrana cardíaca chamada pericárdio (a membrana mais externa do coração) inflama quando da ocorrência de uma deficiência do sistema imunológico, ou seja, Clarice sofreria ataques toda vez que sua imunidade estivesse baixa, quando as defesas do organismo estivessem fracas.
.      Naqueles primeiros dias o balde de água fria: Nada de jogar futebol. Se jogasse, estaria correndo risco de vida. Clarice se perguntava, em meio a lágrimas, o porquê daquilo estar acontecendo com ela: "Tanta gente ruim no mundo que não presta pra nada e eu aqui, sofrendo de algo que me inutilizará pelo resto da vida!? Isso não é justo!!!" Lembrou-se do seu antigo protetor, Emanuel, o velhinho. Chamou-o em seus pensamentos, esperou algumas horas e nada. Ele nunca havia demorado tanto para respondê-la. Ficou um pouco mais deprimida, estava se sentindo só. Já eram altas horas da noite e ela não conseguia dormir, imersa em seus pensamentos... Mas enfim adormeceu; E sonhou.

***

.     Clarice estava em uma sala ampla, cor de ouro, e à sua frente estendia-se uma enorme mesa com um banquete de todo o tipo de comida imaginável: pães, legumes, carnes de várias espécies, bebidas, doces, salgados... Haviam muitas pessoas, Clarice calculava em torno de mil. Era estranho o ambiente pois parecia se tratar de alguma época remota, analisando-se pelos trajes ou o estilo de arquitetura. Sentia-se um pouco excluída, é verdade, mas ninguém parecia notar sua presença naquele lugar. Então ela puxou uma banqueta que estava próxima a uma das paredes e se sentou, observando. Bruscamente um homem, aparentando ser o anfitrião e estar um pouco alterado pela bebida, mandou trazer algo, que Clarice não pode ouvir. Surgiram mulheres vestidas sensualmente e com muitas jóias, trazendo utensílios de ouro e prata: Copos, talheres, adagas. O homem ordenou que fossem servidos alimentos e vinho nos objetos, e tudo discorrendo numa fanfarra absurda. De repente, dedos de mão de homem surgiram no ar, e escreviam junto à parede. E mudou o semblante do anfitrião e seus joelhos batiam um no outro. Clarice quase entrou em êxtase, tentando saber quem escrevia aquilo. E a mão escreveu algo que não se podia ler, só olhar para aquilo causavam dores nos olhos e na cabeça. Todo mundo no salão ficou apavorado, alguns corriam para qualquer lado, outros desmaiavam. Clarice não entendeu o motivo; e então foi que conseguiu visualizar o que estava escrito: MENE MENE TEQUEL PARSIM.
.     Não entendeu o significado, chegou a pensar se aquelas palavras pertenciam à sua língua de origem. E despertou.

***

.     Ficou ainda algum tempo pensando sobre aquilo, afinal, era muito estranho. Não tinha a menor ideia do que significavam aquelas palavras, mais tarde iria pesquisar.



#Continua

sábado, 19 de novembro de 2011

#14 O jogo


.     Clarice, desde pequena, cultivava uma enorme paixão por esportes, disso todos nós sabemos. Depois dos últimos acontecimentos, estava de certo um pouco assustada, mas com a ajuda de seus pais e os irmãos da Ordem, ela não se sentia mais tão vulnerável quanto antes.
.     Passou a frequentar novamente os treinos de futsal e sua paixão pelo esporte só aumentava a cada dia. Treinava feito uma condenada, tinha sede de conquistar medalhas, ficava no olho do sol quase todo o dia treinando os passes, chutes, movimentação, resistência... Queria estar perfeita, não só para auxiliar o time, mas por um questão interna também, queria sentir que podia fazer algo tão bom ou melhor do que os outros.
.     Chegado o dia da competição entre escolas, Clarice não escondia o nervosismo, bastou que a professora lhe desse uma bola para dar uns chutes e a ansiedade passou. Enfim o primeiro jogo do dia, tudo estava apenas começando.
.     O árbitro apita o início do jogo, tensão à flor da pele. O time de Clarice sai com a bola, e troca passes rapidamente, estava entrosado, prometia grandes vitórias. Até que a bola sobra para Clarice, que num giro brusco recebe-a e chuta, no ângulo, mas logo em seguida vai ao chão, desacordada. As colegas de equipe vibram com o gol precoce e se desesperam ao vê-la estirada. A professora corre, verifica a pulsação e ainda está respirando, pede para que se afastem. A tensão aumenta ainda mais. Um pouco alterada, a professora põe o ouvido junto ao peito de Clarice, e nota que os batimentos estão descompassados. A ambulância está demorando e ela mesma decide levar a menina às pressas para o hospital. As meninas do time tem de voltar ao jogo e prometem fazê-lo por Clarice.
.     Chegando lá, só se vê médicos e enfermeiros correndo e arrumando tudo. O cardiologista de plantão é acionado por um enfermeiro quando este, avisado pela professora dos batimentos da menina, checa e constata que é muito possível ser arritmia. O médico realiza os procedimentos cabíveis e estabiliza a frequência cardíaca; Providencia uma maca na sala de observação para Clarice. Depois de alguns momentos de desespero Clarice acorda, chama pela mãe que está ao seu lado:
-Mãe, eu to bem.
-Graças à Deus, estava muito preocupada contigo menina!
-O que aconteceu?
-Os médicos acham que você teve um princípio de enfarto... Mas fica tranquila que já passou.
-E como as meninas foram no jogo?
A professora interfere:
-Elas ganharam, e dedicaram a vitória a você.





#Continua

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

#13 Na velha biblioteca


.     Clarice depois de ter passado por aquela situação totalmente anormal, teve um sono muito profundo, só acordou no outro dia, que por sorte era feriado, e levantou da cama quando já eram passadas as 11 horas da manhã. Olhou ao redor, algo parecia diferente, mas lembrou que tinha muito o que conversar com sua mãe.
.     A primeira coisa que fez foi relatar todo o acontecido à  Maria, que ficou radiante, pois finalmente Clarice estava tomando o rumo para a qual nasceu. Clarice fez todas as perguntas que lhe vieram à mente e ficou bem estarrecida com algumas revelações de Maria.
.     Depois do almoço - afinal ela não ia tomar o café da manhã, já estava tarde -, pegou o último livro que acabara de ganhar, que pertencia aquela coleção tão fantástica que a fazia sonhar e resolveu lê-lo sentando recostada sobre a cabeceira de sua cama. Uma brisa suave vinha da janela, que estava entreaberta, e balançava de leve seus cabelos escorridos sobre os ombros.
.     Sentiu novamente aquela paz; "Como isso é maravilhoso!" Clarice pensou. Como o ruído de uma torneira mal fechada, a garota ouviu um "ploc" e voltou-se para a direção da qual vinha o ruído: a escrivaninha. Encima do livro negro, que tinha recebido do velhinho quando era criança, viu uma pequena folha de cor parda, um pouco amassada, fixada com um alfinete. Num sobressalto se dirigiu até a escrivaninha e leu o bilhete, que igual ao outro, estava em letra de forma, estilo medieval e escrita à mão:

"Na velha biblioteca do Mosteiro São Bento, perto da tua escola, tem um livro antigo de capa marrom. Ele tem umas inscrições em dourado e as folhas amareladas pelo tempo. É a última cópia que existe no país e nele estão as informações que tu buscas. Quando o veres saberás qual é. E tome muito cuidado, porque tem pessoas te seguindo e vão tentar tomar o livro de ti."

.     Aquilo era mais do que uma ordem, era uma curiosidade avassaladora. "O que será que está escrito naquele livro?" Não perdeu tempo, e sem avisar ninguém saiu desvairada pela rua, para tentar retirar o livro na velha biblioteca do mosteiro, onde costumava passar as tardes quando criança.
.     Falou de relance com o frade que era responsável pelo lugar e conseguiu autorização e então foi até a biblioteca e começou a procurar. Não era uma tarefa fácil já que existiam mais de 60 mil exemplares em todo o recinto. Mas lá no fim do segundo corredor Clarice teve seus olhos transformados em cor de ouro; eles refletiam o brilho um pouco apagado do velho livro. Correu e pegou o livro. Mas, de uma hora para a outra, viu que dois homens vestidos de preto entravam no lugar e tinham uma atitude muito esquisita. Aquela  voz soou audível em seus ouvidos: "Esconde o livro dentro do casaco e pega um outro parecido para despistar, que o que aqueles homens querem é o livro!"; Clarice imediatamente colocou sobre a face o capuz do casaco e saiu pelo fundo da biblioteca, pois conhecia um "caminho de fuga" inativado que os frades não usavam mais. Os homens de longe a viram saindo e correram atrás. Clarice foi esperta e atravessou o bosque do fundo do mosteiro e despistou os homens, que gritavam desesperados pelo livro.
.     Ao chegar em casa, foi de imediato ao seu quarto e escondeu o livro, no teto. Quando saiu lá fora para ver se os homens tinham conseguido segui-la, teve um choque: Seu cachorrinho Policarpo estava morto, provavelmente envenenado com algo que estava em sua água, já que esta estava azul. "Talvez Cobalto, intoxicou o pobre Po!" E então viu afixada na parte superior da casinha do cachorro o recado:

"Queremos o livro. Se não nos der, iremos matar todos os seus animaizinhos queridos e todos aqueles que você ama."

.     Clarice quase voou para dentro de casa para relatar os fatos aos pais; a guerra havia começado.





#Continua;

domingo, 6 de novembro de 2011

#12 A Entrada


.     Corria então o ano de 2005 e Clarice estava com 15 anos. Os tão esperados e sonhados 15 anos. Agora ela percebia que essa data não parecia tão importante assim, pelo menos ainda não tinha conhecimento da verdadeira "imagem por detrás do quadro", isto é, estava acontecendo toda uma movimentação por trás dela, algo que nem desconfiava, mas que estava prestes a se realizar. 
.     Na primeira semana com a nova idade nada muito anormal ocorreu, somente um bilhete estranho no meio do seu livro de cabeceira que dizia o seguinte: "Outro livro foi aberto, o livro da vida". Clarice achou aquilo meio estranho, principalmente pelo bilhete estar escrito com letras garrafais em estilo medieval e não pareciam impressas e sim, feitas à próprio punho. Achou que foi alguma brincadeira de sua irmã, guardou o bilhete e foi comer um sanduíche na cozinha. Naquele momento ela estava sozinha em casa, o resto do pessoal tinha saído  para dar uma volta e ela tinha resolvido ficar em casa, algo dentro dela dizia que aquela noite deveria ficar em casa.

***

.     Uma hora depois, Clarice estava sentada no sofá de casa, olhando aquela revista adolescente que todas as meninas liam, quando ouviu um ruído como se fossem asas de uma pássaro muito grande. Olhou ao redor, sentiu um arrepio estranho e não conseguiu ver nada. Voltou a ler sua revista, porém um pouco mais apreensiva; e novamente aquele ruído, e ele foi se aproximando até que pode sentir o resfolegar de asas em seus ombros. De súbito, de um modo absurdamente rápido, suas vistas escureceram e se sentiu transportada dali para outro lugar. Em questão de segundos estava na varanda de um chalé antigo, estilo vitoriano, no alto de uma colina. Olhou para o seu lado direito e havia uma figura enorme ao seu lado, só conseguia ver seus joelhos, tanto era o tamanho da criatura. Mas não tinha medo, se encontrava num estado de absoluta paz e se sentia muito protegida. Não conseguia ver o rosto daquele ser, primeiro porque estava longe e segundo porque dele emanava um brilho tamanho que não se distinguia sua fisionomia. 
.     Então o ser lhe falou:
-Clarice, antes eu só podia falar contigo através dos sonhos, mas agora é diferente. Tu estás amadurecendo e agora eu posso falar contigo pessoalmente.
-Vo... vo... você é o Emanuel?
-Sim, e vim pessoalmente te comunicar que agora fazes parte da minha Ordem, a Lumière, assim como sua mãe e seu pai. 
-Eles fazem parte disso?
-Sim, desde que eram jovens. Porque o espanto? Fostes gerada para fazer parte também.
-É sério? Nossa, então quer dizer que sou especial? 
-Sim, mas é claro que sim. E agora, como primeiro ato de iniciação, tenho uma missão para você. Mas a enviarei em forma de bilhete novamente como aquele que lhe mandei essa semana. E tente não colocar fora dessa vez... (risos)
.     Com espanto Clarice respondeu:
-Foi você quem mandou??? Desculpa, é que eu pensei que fosse brincadeira da minha irmã e...
-Eu sei. Não precisa te justificar. E agora precisas voltar para tua casa, até logo, filha. 

.     Nem deu tempo de Clarice responder e assim como estava naquele lugar agora estava em casa. Estava eletrizada e muito espantada. "Mãe, acho que temos que conversar" Foi só o que pôde pensar. Precisava de um café.




#Continua     

sábado, 29 de outubro de 2011

#11 O Nome


.     Depois da aula, Clarice chegou em casa muito cansada. Eram seis horas da tarde, estava sem ânimo para nada, mas tinha uma infinidade de atividades da escola para fazer, arrumar o quarto, ler o livro que  seria o tema do próximo teste de literatura. Sabia que não iria conseguir fazer tudo aquilo sem antes dormir um pouquinho e foi isso que ela fez. Programou o celular para despertar às 20:30h e capotou.
.     Não sei se pode ser chamada assim, mas talvez a "patologia" de Clarice era o mundo dos sonhos. Quase todas as noites ela mergulhava nesse mundo paralelo que a colocava como uma habitante de outro planeta. E o personagem que mais povoava seus sonhos era o tal Velhinho. No começo ela não soube o nome dele, aliás, ela na verdade não perguntava nada para ele, era como se tivesse uma trava na sua garganta. Sempre quando ela o via em seus sonhos, ele passava instruções a ela e o mais alucinante era que isso acontecia na vida real. Mas naquele dia foi diferente. 
.     Ela estava em uma cidade deserta, todos os habitantes daquela cidade pareciam haver sumido. Caminhava lentamente por um bairro que parecia ser parte do centro e vestia um vestidinho simples de oxford branco e chinelos. Um vapor esquisito circulava bem junto ao chão, como num filme de terror, mas ela não tinha medo. De repente, sentiu uma paz imensa inundando seu espírito e um toque suave em seu ombro. Era ele. Ela se sentia muito segura ao seu lado, e pela primeira vez fez-lhe a pergunta: 
-Como é seu nome? 
Com uma voz calma e absurdamente agradável ele respondeu:
-Eu tenho muitos nomes, mas basta que saiba esse: Emanuel.
-Eu acho esse nome lindo. Você está sempre ao meu lado né!? Por que você faz isso? Eu nunca te vi na vida real e também não te conhecia...
-Eu faço isso porque és minha filha. Com o tempo você irá entender, eu te darei as respostas. Agora está na hora de acordar, você tem muito o que fazer. 
.     E Clarice de súbito acordou, olhou no relógio - 20:29h - Um arrepio percorreu o seu corpo. Desligou o celular e levantou. Não podia ser verdade, aquilo era coisa demais para sua cabeça. "Como ele pode ser meu pai se eu já tenho um pai? Será que a minha mãe pulou a cerca? Ou eu sou adotada? Quem é ele?" E aquela voz ecoou dentro dela "Eu te darei as respostas". E ela aquietou-se pois sabia que a resposta mais cedo ou mais tarde viria. 





#Continua

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

#10 Chegando de sopete


7:30a.m: O coração dispara. Clarice não enxerga mais nada. A cada passo que dá em direção à sala de aula começa o velho turbilhão de perguntas: Será que vão me aceitar? Será que tudo vai correr bem? E se eu não corresponder as expectativas?
7:32a.m.: Clarice senta na classe mais afastada, no fundo da sala. A professora a questiona de onde veio, quantos anos, se gosta da matéria dela... etc. Clarice só responde "sim", "não", "talvez". O que na verdade não sai de sua mente é o sonho que ela teve na noite anterior: 
"O velhinho, novamente veio falar com ela. E entre apavorada e feliz, sentiu que mais uma orientação estava a caminho: 'Clarice, a partir de agora começa uma nova etapa da tua vida. Não te detenhas em guardar sentimentos egoístas e invejosos no teu coração, porque o lugar para onde vais é um antro de pessoas más.'" E isso não lhe saía da mente.
7:56a.m.: A bem da verdade é que ela não tinha a menor noção do que a professora falava: "Para onde vais é um antro de pessoas más". Observava cada colega e analisava os possíveis desafetos, mas só a convivência iria mostrar quem era o quê.  



#Continua

domingo, 29 de maio de 2011

#9 Novos horizontes


.     Manhã fria e chuvosa. Era o primeiro dia de Clarice na nova escola. Ela levantou um pouquinho cedo demais, com medo de se atrasar... tomou café, arrumou tudo e foi para o lugar onde passaria os próximos três anos de sua vida. Ansiedade, receio, auto-crítica. Esses sentimentos todos juntos inundavam o espírito conturbado de Clarice.
.     Chegando no local combinado, Clarice desce do carro receosa de que tudo ali possa ser o seu começo como também o seu fim. Pega a sua mochila, seus livros, e toca a vida. Dá uma olhadinha ao redor, põe a mochila em um ombro só, pega dois livros e começa sua marcha rumo ao portão. Um turbilhão imenso de emoções a bombardeiam. Clarice é nervosismo puro.
.     Entra no portão, tem alguns alunos na entrada, que a olham de cima a baixo. Clarice não vê nada. Foca no interior do prédio onde vê uma antiga companheira de time, e corre para abracá-la.

-Nossa, você por aqui? Nunca imaginaria você aqui Marcela!
-Pois é, né Clarice! Como as coisas mudam, se fosse a algum tempo atrás estaria bem longe daqui. Marcela riu-se.
-Pra você ver como são as coisas... eu também não queria vir para cá. Aqui estou... 
Marcela deu um risinho e puxou Clarice para o lado, sussurrando:
-Tá vendo aquela menina ali de cabelo escuro, com uma bolsa marrom?
-Claro que estou, não sou cega.
-Tá, não olha. Aquela ali é a Rebecca, não passe nem perto dela, senão a arrogância impregna você.
-Credo, pra quê falar assim, a menina nem deve ser tão má assim... 
-Vai nessa...
.     E Marcela não estava errada, Clarice iria sentir na pele a personalidade egocêntrica de Rebecca. Mas tudo ao seu tempo. 
.     Depois de encontrar Marcela e conversar um pouco, Clarice aliviou a tensão, e aí não parou mais... Conversou com quase todos os alunos que viu pela frente, cativando-os de tal maneira que nem ela tinha a mínima noção! É, até que não foi um mal começo para quem estava a ponto de explodir... Essa escola promete muitas e muitas coisas ainda...



#Continua

#8 Memórias de uma vida escolar


.     Buzinas, conversas, sinal. Sentada na classe Clarice sonhava com um futuro que estava mais próximo. Já na 8ª série, teria que decidir para que escola deveria ir para cursar o ensino médio. Estava indecisa, não queria deixar os amigos, a escola que sempre gostou de estar, a vida boa que levava naquela escola.
.     Seus pais já haviam a advertido que querendo ou não, teria que ir estudar em uma escola de um nível mais difícil das escolas que Clarice estava acostumada. Queriam que Clarice tivesse uma vida estruturada, sem maiores dificuldades. E deram o ultimato: ou estuda ou trabalha como caixa de loja ganhando um mixaria e tendo uma vida difícil. O que será que Clarice escolheu? Não é difícil de adivinhar...

***

.    Naquele dia Clarice estava meio entediada, aliás, não sabia nem por onde começar. Estava indecisa entre três opções de escola nova. Opção 1: Escola técnica federal. Opção 2: Escola tecnológica interna de turno integral a 2.000km de distância de sua casa. Opção 3: Uma nova escola que havia aberto vagas naquele ano para inscrições no ensino médio, com turno integral, particular. 
.     Primeiro Clarice fez a prova de seleção da escola técnica, passou em 1º lugar para o curso que queria (mecânica) e ficou entre os primeiros classificados para cursar o ensino médio. Logo depois fez o concurso para aquela escola tecnológica, só que infelizmente não passou na última fase - Clarice pensou: ótimo, menos uma. Essa era boa mas era muito longe - Por fim, fez a prova da escola particular de turno integral e ficou classificada entre os primeiros lugares.
.     Clarice escolheu a 3ª opção. Afinal de contas, nunca tinha estudado em uma escola particular e queria saber como era, usar uniforme, ter uma armário só para ela, conviver com pessoas de outro nível. Que, diga-se de passagem, era super necessário, já que Clarice era por assim dizer, grossa, não sabia se portar diante de pessoas da alta sociedade.
.     A decisão não empolgou muito o pai de Clarice, já que ele não estava muito a fim de desembolsar uma graninha comprando coisas e mais coisas para o colégio novo. Na verdade João queria mesmo era só pagar o material escolar do começo do ano e mais nada. 

***

.     E lá se vão alguns dias de preparo psicológico para entrar na escola nova. Clarice estava super ansiosa, não sabia o que esperar, bom, na verdade sabia, mas queria ter a certeza de que estava enganada.
.     Como uma garota simples que nunca se importou muito com aparências, Clarice imaginava suas novas colegas como aquelas patricinhas de seriados americanos, que andam com tudo que seja da última moda, que chegam de carro importado e namoram o menino mais bonito da escola.
.     Só que não é exatamente isso que Clarice irá encontrar na nova escola... ainda há muito o que viver e ser discutido, vivido, errado, acertado... enfim. Só o tempo sabe de tudo. E agora, o que restava a Clarice era esperar o próximo capítulo de sua vida.


#Continua

domingo, 10 de abril de 2011

#7 Som do coração

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.     Clarice não ia muito bem na escola no que se referia à ciências exatas. Sua pediatra sugeriu à D. Maria que pusesse Clarice em uma aula qualquer de música. O importante era aprender a teoria e a prática, que isso ajudaria em seu desempenho escolar. 
.     No começo, Clarice teve muita dificuldade, como tudo que se começa do zero, mas depois de um ano já era destaque entre os outros colegas de teoria musical. Parecia que tinha um dom nato para aquilo, nascera com ela. 
.     E isso se refletiu em suas notas.
.     A antes burrinha, que errava simples cálculos de adição e subtração, agora gabaritava tudo. E a sementinha da inveja começou a brotar no coração de seus coleguinhas.
.     Na 5º ano, Clarice já era frequentemente alvo de elogios por parte de todos ex-professores e professores, pela sua capacidade intelectual. Mas, mesmo gostando de ouvir o que os professores falavam dela, Clarice não se sentia bem. 
.     Os quilinhos a mais que ganhou durante os primeiros meses de vida de sua irmãzinha, não mandou embora. 
.     Aliás mandava para dentro. 
.     Comia feito uma condenada, e isso fez subir o ponteiro da balança. 
.     Era alvo de Bullying
.     "Gorda baleia, saco de areia!", "Rolha de poço", "Barriguda", "Elefante", "Grávida", eram as ofensas mais frequentes. Clarice corria atrás das outras crianças que diziam isso, batia, xingava, mas, no fundo, sabia que aquilo era verdade. Isso rendia muitos murros no travesseiro; e muitas lágrimas. Definitivamente aquilo teria de mudar, se não, não saberia se iria aguentar viver com as zombarias para o resto da vida.


***


.     Nas férias do 7º para o 8º ano, Clarice criou coragem, fez uma reeducação alimentar, e perdeu 11kg. Melhorou consideravelmente a sua situação. Seus colegas tiveram um susto ao vê-la no início do ano. É, parecia que as coisas estavam tomando um rumo. E era isso que Clarice esperava. 
.     Ela não ficou um espaguete, mas ficou apresentável. Agora, se sentia feliz em ir à uma loja comprar roupas, o que antes representava algo incômodo, horrível, tenebroso, agora se fazia na maior desenvoltura. 
.    Por essas e outras, Clarice teve, desde bem pequena, seu caráter moldado para as inúmeras situações da vida. Aprendeu que zombar de alguém não te faz melhor, que aparência não é tudo, e o que importa mesmo é o coração. Aliás, importa mesmo.




#Continua