sábado, 29 de outubro de 2011

#11 O Nome


.     Depois da aula, Clarice chegou em casa muito cansada. Eram seis horas da tarde, estava sem ânimo para nada, mas tinha uma infinidade de atividades da escola para fazer, arrumar o quarto, ler o livro que  seria o tema do próximo teste de literatura. Sabia que não iria conseguir fazer tudo aquilo sem antes dormir um pouquinho e foi isso que ela fez. Programou o celular para despertar às 20:30h e capotou.
.     Não sei se pode ser chamada assim, mas talvez a "patologia" de Clarice era o mundo dos sonhos. Quase todas as noites ela mergulhava nesse mundo paralelo que a colocava como uma habitante de outro planeta. E o personagem que mais povoava seus sonhos era o tal Velhinho. No começo ela não soube o nome dele, aliás, ela na verdade não perguntava nada para ele, era como se tivesse uma trava na sua garganta. Sempre quando ela o via em seus sonhos, ele passava instruções a ela e o mais alucinante era que isso acontecia na vida real. Mas naquele dia foi diferente. 
.     Ela estava em uma cidade deserta, todos os habitantes daquela cidade pareciam haver sumido. Caminhava lentamente por um bairro que parecia ser parte do centro e vestia um vestidinho simples de oxford branco e chinelos. Um vapor esquisito circulava bem junto ao chão, como num filme de terror, mas ela não tinha medo. De repente, sentiu uma paz imensa inundando seu espírito e um toque suave em seu ombro. Era ele. Ela se sentia muito segura ao seu lado, e pela primeira vez fez-lhe a pergunta: 
-Como é seu nome? 
Com uma voz calma e absurdamente agradável ele respondeu:
-Eu tenho muitos nomes, mas basta que saiba esse: Emanuel.
-Eu acho esse nome lindo. Você está sempre ao meu lado né!? Por que você faz isso? Eu nunca te vi na vida real e também não te conhecia...
-Eu faço isso porque és minha filha. Com o tempo você irá entender, eu te darei as respostas. Agora está na hora de acordar, você tem muito o que fazer. 
.     E Clarice de súbito acordou, olhou no relógio - 20:29h - Um arrepio percorreu o seu corpo. Desligou o celular e levantou. Não podia ser verdade, aquilo era coisa demais para sua cabeça. "Como ele pode ser meu pai se eu já tenho um pai? Será que a minha mãe pulou a cerca? Ou eu sou adotada? Quem é ele?" E aquela voz ecoou dentro dela "Eu te darei as respostas". E ela aquietou-se pois sabia que a resposta mais cedo ou mais tarde viria. 





#Continua

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

#10 Chegando de sopete


7:30a.m: O coração dispara. Clarice não enxerga mais nada. A cada passo que dá em direção à sala de aula começa o velho turbilhão de perguntas: Será que vão me aceitar? Será que tudo vai correr bem? E se eu não corresponder as expectativas?
7:32a.m.: Clarice senta na classe mais afastada, no fundo da sala. A professora a questiona de onde veio, quantos anos, se gosta da matéria dela... etc. Clarice só responde "sim", "não", "talvez". O que na verdade não sai de sua mente é o sonho que ela teve na noite anterior: 
"O velhinho, novamente veio falar com ela. E entre apavorada e feliz, sentiu que mais uma orientação estava a caminho: 'Clarice, a partir de agora começa uma nova etapa da tua vida. Não te detenhas em guardar sentimentos egoístas e invejosos no teu coração, porque o lugar para onde vais é um antro de pessoas más.'" E isso não lhe saía da mente.
7:56a.m.: A bem da verdade é que ela não tinha a menor noção do que a professora falava: "Para onde vais é um antro de pessoas más". Observava cada colega e analisava os possíveis desafetos, mas só a convivência iria mostrar quem era o quê.  



#Continua