sábado, 22 de setembro de 2012

#17 Incógnitas reveladas



     Passaram-se alguns dias e Clarice ainda estava encucada com aquele sonho maluco que teve, aquelas palavras esquisitas... nada fazia muito sentido ultimamente. Seus afazeres escolares tinham ocupado uma boa parte de seu tempo, embora sua mente estivesse em outro mundo. Certamente seu rendimento não foi dos melhores, então decidiu ir estudar na biblioteca do mosteiro, que ficava próximo de sua casa. Pegou O Livro, misturado em meio aos seus livros didáticos e se foi.
     Chegando lá, para sua surpresa, a biblioteca estava completamente vazia, excetuando-se o frei que estava sempre por ali, limpando uma prateleira aqui e acolá. Esparramou suas muambas por cima da mesa e se sentou. Estudou um pouco de matemática, se cansou. Uma leve brisa entrava pela janela aberta, ao seu lado, e permitiu que a mente dela voasse... "Aquelas palavras, o que significam? A quem se referem? Que coisa mais louca..."
     Do nada um vento mais forte fez com que O Livro fosse aberto. Clarice, despertada de sua viagem mental, passou a ler o que estava escrito naquela passagem:

"Então da parte da Divindade Soberana foi enviada aquela mão, que escreveu este escrito.
Este, pois, é o escrito que se escreveu: MENE, MENE, TEQUEL, PARSIM."

     Clarice, num tremor instantâneo, lembrou "o meu sonho" e prosseguiu:

"Esta é a interpretação daquilo: MENE: Contado foi o teu reino, e o acabou.
TEQUEL: Pesado foste na balança, e foste achado em falta.
PARSIM: Dividido foi o teu reino, e dado aos medos e aos persas.
Naquela noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus.
E Dario, o medo, ocupou o reino, sendo da idade de sessenta e dois anos." 

    Ela nunca havia lido aquele trecho do livro, e que loucura! Tratava-se de uma história que realmente aconteceu! Como ela poderia ter sonhado com aquilo?
     Pensou em perguntar algo para Emanuel, sim, ele! Fazia alguns dias que não falava com o seu protetor, e o sonho que tivera só podia ser coisa dele. Mas por quê? Aquilo não tinha nada a ver com sua vida, era algo meio avulso em meio a tanta coisa. Ali mesmo, naquela velha biblioteca, concentrou-se e, olhos fechados, invocou-o em pensamento.
     Alguns segundos se passaram e, para seu espanto, achava-se ali, sentado bem a sua frente, o velhinho mais sábio que já conhecera. Incrível.
     Conversaram por horas, e Clarice, perguntando tudo que podia numa avidez sem limites, de súbito parou. Um silêncio momentâneo pairou e Emanuel lhe disse:
-Sabe filha, tem coisas que só descobrimos com o passar do tempo. E eu sei o tempo certo para todas as coisas que acontecem contigo... conhecer a Alden foi crucial pra ti, neste momento. Ela é uma pessoa rica em conhecimento, o qual tu precisas. E mais: nenhuma ameaça da Charna vai se realizar, todos eles juntos não têm o poder que eu tenho no dedo mínimo do pé. Não se preocupe.
-Mas eles disseram que vão matar todos ao meu redor e me deixar por último...
-Não se preocupe.
-Às vezes parece que você está tão longe de mim, parece que eu estou vulnerável... o que faço nessas horas?
-Basta que tu feche os teus olhos e se concentre em mim. Direta ou indiretamente farei tudo cooperar para o teu bem, sempre.
-Está bem, eu acredito, mesmo sem ver.
   
     Numa exclamação empolgadíssima Emanuel saltou da cadeira e gesticulava e falava ao mesmo tempo:
-É isso!!! Acreditar sem ver. Tu precisas acreditar em mim, mesmo sem me ver. É isso que me agrada. Porque é muito fácil acreditar quando se vê, disso todo mundo é capaz... mas crer sem ver é para poucos! É o dom que me satisfaz!!! E por essa tua atitude, te mandarei um presentinho nesta semana!

     E da mesma forma que apareceu, sumiu. Clarice ficou estarrecida por alguns minutos, sem ação. E a curiosidade se apoderou de seus pensamentos. Aquela semana ia demorar para passar...



#Continua.








terça-feira, 11 de setembro de 2012

#16 Uma visita à casa da tia Alden


     Naqueles dias, D. Maria reencontrou uma prima que não via há muito tempo. Quando crianças, elas eram muito amigas e se trocaram cartas até a adolescência, porém, uma se mudou e perdeu o endereço da outra e não se falaram mais.
     Por acaso, encontraram-se no mercado, e o papo foi dos grandes. Temendo pelo horário, as duas trocaram contatos e D. Maria ficou na obrigação de visitar Alden. Disse à prima que levaria sua filha Clarice para conhecê-la. E foi o que fez.
     Na semana seguinte, lá estavam as duas à frente daquele enorme casarão em estilo inglês, um pouco afastado da cidade, bem conservado quando comparado a sua idade. Tocou-se a campainha. O que se pode ouvir foram passos lentos, que se dirigiam à porta. Alden, sorridente, fez as honras da casa e as convidou para entrar. Clarice, logo de cara, ficou fascinada com aquele lugar que nunca tinha visto, mas que parecia ser muito familiar. Estranho.
     Depois de horas de conversas, risadas, lembranças, Alden, agora muito mais à vontade com as duas, começou a contar sobre suas experiências com livros não divulgados em larga escala.
     Levou-as até a biblioteca e mostrou alguns exemplares exclusivos. Os olhos de Clarice brilharam quando viu O Livro, igualzinho ao seu. Aí foi uma chuva de perguntas, que Alden procurou responder da melhor forma possível. Por ser mais experiente do que Maria (embora Maria tenha explicado para a menina, meio por cima), Alden explicou as facetas pormenorizadas de todas as coisas para Clarice; falou sobre tudo: história, integrantes, poderes...  disse também que só os integrantes da Ordem possuiam aquele livro. Destacou que os homens que a haviam seguido aquela vez no mosteiro eram da Charna, uma irmandade totalmente oposta à Lumiére, e que estão em guerra permanente desde os primórdios da humanidade. Entretanto, os Charna nunca obtiveram nenhuma vitória efetiva. Por isso da raiva excessiva. 
     Clarice, com aquele ar de "agora tudo faz sentido" ficou pensativa; precisava digerir todas aquelas informações. E sabia que visitaria mais frequentemente a casa da "tia" Alden.




#Continua.