domingo, 10 de abril de 2011

#7 Som do coração

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.     Clarice não ia muito bem na escola no que se referia à ciências exatas. Sua pediatra sugeriu à D. Maria que pusesse Clarice em uma aula qualquer de música. O importante era aprender a teoria e a prática, que isso ajudaria em seu desempenho escolar. 
.     No começo, Clarice teve muita dificuldade, como tudo que se começa do zero, mas depois de um ano já era destaque entre os outros colegas de teoria musical. Parecia que tinha um dom nato para aquilo, nascera com ela. 
.     E isso se refletiu em suas notas.
.     A antes burrinha, que errava simples cálculos de adição e subtração, agora gabaritava tudo. E a sementinha da inveja começou a brotar no coração de seus coleguinhas.
.     Na 5º ano, Clarice já era frequentemente alvo de elogios por parte de todos ex-professores e professores, pela sua capacidade intelectual. Mas, mesmo gostando de ouvir o que os professores falavam dela, Clarice não se sentia bem. 
.     Os quilinhos a mais que ganhou durante os primeiros meses de vida de sua irmãzinha, não mandou embora. 
.     Aliás mandava para dentro. 
.     Comia feito uma condenada, e isso fez subir o ponteiro da balança. 
.     Era alvo de Bullying
.     "Gorda baleia, saco de areia!", "Rolha de poço", "Barriguda", "Elefante", "Grávida", eram as ofensas mais frequentes. Clarice corria atrás das outras crianças que diziam isso, batia, xingava, mas, no fundo, sabia que aquilo era verdade. Isso rendia muitos murros no travesseiro; e muitas lágrimas. Definitivamente aquilo teria de mudar, se não, não saberia se iria aguentar viver com as zombarias para o resto da vida.


***


.     Nas férias do 7º para o 8º ano, Clarice criou coragem, fez uma reeducação alimentar, e perdeu 11kg. Melhorou consideravelmente a sua situação. Seus colegas tiveram um susto ao vê-la no início do ano. É, parecia que as coisas estavam tomando um rumo. E era isso que Clarice esperava. 
.     Ela não ficou um espaguete, mas ficou apresentável. Agora, se sentia feliz em ir à uma loja comprar roupas, o que antes representava algo incômodo, horrível, tenebroso, agora se fazia na maior desenvoltura. 
.    Por essas e outras, Clarice teve, desde bem pequena, seu caráter moldado para as inúmeras situações da vida. Aprendeu que zombar de alguém não te faz melhor, que aparência não é tudo, e o que importa mesmo é o coração. Aliás, importa mesmo.




#Continua