sábado, 19 de novembro de 2011

#14 O jogo


.     Clarice, desde pequena, cultivava uma enorme paixão por esportes, disso todos nós sabemos. Depois dos últimos acontecimentos, estava de certo um pouco assustada, mas com a ajuda de seus pais e os irmãos da Ordem, ela não se sentia mais tão vulnerável quanto antes.
.     Passou a frequentar novamente os treinos de futsal e sua paixão pelo esporte só aumentava a cada dia. Treinava feito uma condenada, tinha sede de conquistar medalhas, ficava no olho do sol quase todo o dia treinando os passes, chutes, movimentação, resistência... Queria estar perfeita, não só para auxiliar o time, mas por um questão interna também, queria sentir que podia fazer algo tão bom ou melhor do que os outros.
.     Chegado o dia da competição entre escolas, Clarice não escondia o nervosismo, bastou que a professora lhe desse uma bola para dar uns chutes e a ansiedade passou. Enfim o primeiro jogo do dia, tudo estava apenas começando.
.     O árbitro apita o início do jogo, tensão à flor da pele. O time de Clarice sai com a bola, e troca passes rapidamente, estava entrosado, prometia grandes vitórias. Até que a bola sobra para Clarice, que num giro brusco recebe-a e chuta, no ângulo, mas logo em seguida vai ao chão, desacordada. As colegas de equipe vibram com o gol precoce e se desesperam ao vê-la estirada. A professora corre, verifica a pulsação e ainda está respirando, pede para que se afastem. A tensão aumenta ainda mais. Um pouco alterada, a professora põe o ouvido junto ao peito de Clarice, e nota que os batimentos estão descompassados. A ambulância está demorando e ela mesma decide levar a menina às pressas para o hospital. As meninas do time tem de voltar ao jogo e prometem fazê-lo por Clarice.
.     Chegando lá, só se vê médicos e enfermeiros correndo e arrumando tudo. O cardiologista de plantão é acionado por um enfermeiro quando este, avisado pela professora dos batimentos da menina, checa e constata que é muito possível ser arritmia. O médico realiza os procedimentos cabíveis e estabiliza a frequência cardíaca; Providencia uma maca na sala de observação para Clarice. Depois de alguns momentos de desespero Clarice acorda, chama pela mãe que está ao seu lado:
-Mãe, eu to bem.
-Graças à Deus, estava muito preocupada contigo menina!
-O que aconteceu?
-Os médicos acham que você teve um princípio de enfarto... Mas fica tranquila que já passou.
-E como as meninas foram no jogo?
A professora interfere:
-Elas ganharam, e dedicaram a vitória a você.





#Continua

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

#13 Na velha biblioteca


.     Clarice depois de ter passado por aquela situação totalmente anormal, teve um sono muito profundo, só acordou no outro dia, que por sorte era feriado, e levantou da cama quando já eram passadas as 11 horas da manhã. Olhou ao redor, algo parecia diferente, mas lembrou que tinha muito o que conversar com sua mãe.
.     A primeira coisa que fez foi relatar todo o acontecido à  Maria, que ficou radiante, pois finalmente Clarice estava tomando o rumo para a qual nasceu. Clarice fez todas as perguntas que lhe vieram à mente e ficou bem estarrecida com algumas revelações de Maria.
.     Depois do almoço - afinal ela não ia tomar o café da manhã, já estava tarde -, pegou o último livro que acabara de ganhar, que pertencia aquela coleção tão fantástica que a fazia sonhar e resolveu lê-lo sentando recostada sobre a cabeceira de sua cama. Uma brisa suave vinha da janela, que estava entreaberta, e balançava de leve seus cabelos escorridos sobre os ombros.
.     Sentiu novamente aquela paz; "Como isso é maravilhoso!" Clarice pensou. Como o ruído de uma torneira mal fechada, a garota ouviu um "ploc" e voltou-se para a direção da qual vinha o ruído: a escrivaninha. Encima do livro negro, que tinha recebido do velhinho quando era criança, viu uma pequena folha de cor parda, um pouco amassada, fixada com um alfinete. Num sobressalto se dirigiu até a escrivaninha e leu o bilhete, que igual ao outro, estava em letra de forma, estilo medieval e escrita à mão:

"Na velha biblioteca do Mosteiro São Bento, perto da tua escola, tem um livro antigo de capa marrom. Ele tem umas inscrições em dourado e as folhas amareladas pelo tempo. É a última cópia que existe no país e nele estão as informações que tu buscas. Quando o veres saberás qual é. E tome muito cuidado, porque tem pessoas te seguindo e vão tentar tomar o livro de ti."

.     Aquilo era mais do que uma ordem, era uma curiosidade avassaladora. "O que será que está escrito naquele livro?" Não perdeu tempo, e sem avisar ninguém saiu desvairada pela rua, para tentar retirar o livro na velha biblioteca do mosteiro, onde costumava passar as tardes quando criança.
.     Falou de relance com o frade que era responsável pelo lugar e conseguiu autorização e então foi até a biblioteca e começou a procurar. Não era uma tarefa fácil já que existiam mais de 60 mil exemplares em todo o recinto. Mas lá no fim do segundo corredor Clarice teve seus olhos transformados em cor de ouro; eles refletiam o brilho um pouco apagado do velho livro. Correu e pegou o livro. Mas, de uma hora para a outra, viu que dois homens vestidos de preto entravam no lugar e tinham uma atitude muito esquisita. Aquela  voz soou audível em seus ouvidos: "Esconde o livro dentro do casaco e pega um outro parecido para despistar, que o que aqueles homens querem é o livro!"; Clarice imediatamente colocou sobre a face o capuz do casaco e saiu pelo fundo da biblioteca, pois conhecia um "caminho de fuga" inativado que os frades não usavam mais. Os homens de longe a viram saindo e correram atrás. Clarice foi esperta e atravessou o bosque do fundo do mosteiro e despistou os homens, que gritavam desesperados pelo livro.
.     Ao chegar em casa, foi de imediato ao seu quarto e escondeu o livro, no teto. Quando saiu lá fora para ver se os homens tinham conseguido segui-la, teve um choque: Seu cachorrinho Policarpo estava morto, provavelmente envenenado com algo que estava em sua água, já que esta estava azul. "Talvez Cobalto, intoxicou o pobre Po!" E então viu afixada na parte superior da casinha do cachorro o recado:

"Queremos o livro. Se não nos der, iremos matar todos os seus animaizinhos queridos e todos aqueles que você ama."

.     Clarice quase voou para dentro de casa para relatar os fatos aos pais; a guerra havia começado.





#Continua;

domingo, 6 de novembro de 2011

#12 A Entrada


.     Corria então o ano de 2005 e Clarice estava com 15 anos. Os tão esperados e sonhados 15 anos. Agora ela percebia que essa data não parecia tão importante assim, pelo menos ainda não tinha conhecimento da verdadeira "imagem por detrás do quadro", isto é, estava acontecendo toda uma movimentação por trás dela, algo que nem desconfiava, mas que estava prestes a se realizar. 
.     Na primeira semana com a nova idade nada muito anormal ocorreu, somente um bilhete estranho no meio do seu livro de cabeceira que dizia o seguinte: "Outro livro foi aberto, o livro da vida". Clarice achou aquilo meio estranho, principalmente pelo bilhete estar escrito com letras garrafais em estilo medieval e não pareciam impressas e sim, feitas à próprio punho. Achou que foi alguma brincadeira de sua irmã, guardou o bilhete e foi comer um sanduíche na cozinha. Naquele momento ela estava sozinha em casa, o resto do pessoal tinha saído  para dar uma volta e ela tinha resolvido ficar em casa, algo dentro dela dizia que aquela noite deveria ficar em casa.

***

.     Uma hora depois, Clarice estava sentada no sofá de casa, olhando aquela revista adolescente que todas as meninas liam, quando ouviu um ruído como se fossem asas de uma pássaro muito grande. Olhou ao redor, sentiu um arrepio estranho e não conseguiu ver nada. Voltou a ler sua revista, porém um pouco mais apreensiva; e novamente aquele ruído, e ele foi se aproximando até que pode sentir o resfolegar de asas em seus ombros. De súbito, de um modo absurdamente rápido, suas vistas escureceram e se sentiu transportada dali para outro lugar. Em questão de segundos estava na varanda de um chalé antigo, estilo vitoriano, no alto de uma colina. Olhou para o seu lado direito e havia uma figura enorme ao seu lado, só conseguia ver seus joelhos, tanto era o tamanho da criatura. Mas não tinha medo, se encontrava num estado de absoluta paz e se sentia muito protegida. Não conseguia ver o rosto daquele ser, primeiro porque estava longe e segundo porque dele emanava um brilho tamanho que não se distinguia sua fisionomia. 
.     Então o ser lhe falou:
-Clarice, antes eu só podia falar contigo através dos sonhos, mas agora é diferente. Tu estás amadurecendo e agora eu posso falar contigo pessoalmente.
-Vo... vo... você é o Emanuel?
-Sim, e vim pessoalmente te comunicar que agora fazes parte da minha Ordem, a Lumière, assim como sua mãe e seu pai. 
-Eles fazem parte disso?
-Sim, desde que eram jovens. Porque o espanto? Fostes gerada para fazer parte também.
-É sério? Nossa, então quer dizer que sou especial? 
-Sim, mas é claro que sim. E agora, como primeiro ato de iniciação, tenho uma missão para você. Mas a enviarei em forma de bilhete novamente como aquele que lhe mandei essa semana. E tente não colocar fora dessa vez... (risos)
.     Com espanto Clarice respondeu:
-Foi você quem mandou??? Desculpa, é que eu pensei que fosse brincadeira da minha irmã e...
-Eu sei. Não precisa te justificar. E agora precisas voltar para tua casa, até logo, filha. 

.     Nem deu tempo de Clarice responder e assim como estava naquele lugar agora estava em casa. Estava eletrizada e muito espantada. "Mãe, acho que temos que conversar" Foi só o que pôde pensar. Precisava de um café.




#Continua